2006/10/15
A MENTiRA E O ESTADO DO MUNDO, frei Bento domingues, o.p.
[Começando pelo fim e algo que é bom lembrar]: João Paulo II opôs-se, com todos os meios ao seu alcance, à invasão do Iraque. Para ele, como já tinha escrito numa mensagem em 1980, "a verdade e a força da paz". A mentira e a força da guerra.
(...) Sabia-se que havia tensões entre a Administração Bush e as agências de espionagem. Agora, parece que explodiram. Bush teima em repetir que os EUA estão a ganhar a guerra contra o terrorismo. No entanto, 16 organismos de espionagem concluíram que a guerra no Iraque, longe de fazer recuar o terrorismo, serviu para o exacerbar e propagar. O radicalismo islâmico difundiu-se por toda a parte. Para Bruce Hoffman, catedrático de estudos de segurança da Universidade Georgetown, a conclusão geral que brota dos documentos é esta: "Não dispomos de balas suficientes para todos os inimigos que criámos."(...)
2. Ian Buruma, professor de Democracia, Direitos Humanos e Jornalismo, no comentário a um livro recente - The Greatest Story ever Sold (A Maior História Alguma Vez Vendida) - de Frank Rich, toca directamente nessa questão. A realidade já não interessa para a forma como o mundo funciona hoje. O império cria a sua própria realidade. E o mais inquietante, insiste Buruma, é que esta arrogância vai no mesmo sentido de muitos outros fenómenos: "A destruição pós-moderna da verdade objectiva, os bloguistas e os fala-baratos das talk radios (rádios de opinião), que apontam o caminho aos meios de comunicação, as empresas jornalistas compradas por grupos de entretenimento, os meios cada vez mais numerosos e aperfeiçoados de manipulação da realidade" (I).O tema da obra de Frank Rich é, precisamente, sobre a criação de uma realidade falsificada. Não é, em primeiro lugar, uma obra de análise política ou geopolítica. Não se detém sobre os argumentos a favor ou contra a deposição de Saddam Hussein, sobre as consequências da intervenção militar dos EUA no Médio Oriente, nem sobre a ameaça do extremismo islamita. Mas sabe que George W. Bush e o seu conselheiro político jogaram com os medos e o patriotismo para ganhar as eleições. O vice-presidente, Dick Cheney, e os seus apoiantes neoconservadores eram partidários de uma guerra no Iraque muito antes dos atentados de 11 de Setembro de 2001, a fim de mudar o xadrez do Médio Oriente. Se acreditavam numa redistribuição das cartas nessa zona, para lutar contra o terrorismo, enganaram-se redondamente.(...)
No final de 2001, Dick Cheney assegurou que a ligação entre o Iraque e Mohamed Atta, um dos terroristas do 11 de Setembro, era absolutamente verídica. No Verão de 2002, declarou que Saddam Hussein persistia em querer dotar-se de armas nucleares e não havia qualquer dúvida de que possuía armas de destruição maciça. Referiu-se, ainda, a tubos de alumínio que Saddam Hussein tencionava utilizar, para enriquecer urânio, a fim de fabricar uma arma nuclear. Os iraquianos, disse ele, tinham obtido esse urânio no Níger. Em Outubro de 2002, o Presidente Bush declarou: "Perante a escalada do perigo, não podemos permitir- nos esperar pela prova definitiva, que poderá apresentar-se sob a forma de um cogumelo atómico.
"Hoje, sabemos que não havia nada de verdade nessas afirmações. Serviram, no entanto, para justificar a entrada na guerra.Segundo Rich, os jornais mais sérios publicaram as afirmações da Casa Branca na primeira página, relegando as interrogações para a última. Não faltará quem diga que mexer nessa pouca-vergonha serve, apenas, para desprestigiar os jornais mais reputados, mais sérios, do mundo anglófono e, finalmente, para oferecer munições aos inimigos dos EUA e fortalecer o antiamericanismo.É precisamente o contrário. É urgente obrigar os meios de comunicação e, em particular, os jornais de grande prestígio a verem-se ao espelho das mentiras que são capazes de difundir e apoiar.(...)"
(...) Sabia-se que havia tensões entre a Administração Bush e as agências de espionagem. Agora, parece que explodiram. Bush teima em repetir que os EUA estão a ganhar a guerra contra o terrorismo. No entanto, 16 organismos de espionagem concluíram que a guerra no Iraque, longe de fazer recuar o terrorismo, serviu para o exacerbar e propagar. O radicalismo islâmico difundiu-se por toda a parte. Para Bruce Hoffman, catedrático de estudos de segurança da Universidade Georgetown, a conclusão geral que brota dos documentos é esta: "Não dispomos de balas suficientes para todos os inimigos que criámos."(...)
2. Ian Buruma, professor de Democracia, Direitos Humanos e Jornalismo, no comentário a um livro recente - The Greatest Story ever Sold (A Maior História Alguma Vez Vendida) - de Frank Rich, toca directamente nessa questão. A realidade já não interessa para a forma como o mundo funciona hoje. O império cria a sua própria realidade. E o mais inquietante, insiste Buruma, é que esta arrogância vai no mesmo sentido de muitos outros fenómenos: "A destruição pós-moderna da verdade objectiva, os bloguistas e os fala-baratos das talk radios (rádios de opinião), que apontam o caminho aos meios de comunicação, as empresas jornalistas compradas por grupos de entretenimento, os meios cada vez mais numerosos e aperfeiçoados de manipulação da realidade" (I).O tema da obra de Frank Rich é, precisamente, sobre a criação de uma realidade falsificada. Não é, em primeiro lugar, uma obra de análise política ou geopolítica. Não se detém sobre os argumentos a favor ou contra a deposição de Saddam Hussein, sobre as consequências da intervenção militar dos EUA no Médio Oriente, nem sobre a ameaça do extremismo islamita. Mas sabe que George W. Bush e o seu conselheiro político jogaram com os medos e o patriotismo para ganhar as eleições. O vice-presidente, Dick Cheney, e os seus apoiantes neoconservadores eram partidários de uma guerra no Iraque muito antes dos atentados de 11 de Setembro de 2001, a fim de mudar o xadrez do Médio Oriente. Se acreditavam numa redistribuição das cartas nessa zona, para lutar contra o terrorismo, enganaram-se redondamente.(...)
No final de 2001, Dick Cheney assegurou que a ligação entre o Iraque e Mohamed Atta, um dos terroristas do 11 de Setembro, era absolutamente verídica. No Verão de 2002, declarou que Saddam Hussein persistia em querer dotar-se de armas nucleares e não havia qualquer dúvida de que possuía armas de destruição maciça. Referiu-se, ainda, a tubos de alumínio que Saddam Hussein tencionava utilizar, para enriquecer urânio, a fim de fabricar uma arma nuclear. Os iraquianos, disse ele, tinham obtido esse urânio no Níger. Em Outubro de 2002, o Presidente Bush declarou: "Perante a escalada do perigo, não podemos permitir- nos esperar pela prova definitiva, que poderá apresentar-se sob a forma de um cogumelo atómico.
"Hoje, sabemos que não havia nada de verdade nessas afirmações. Serviram, no entanto, para justificar a entrada na guerra.Segundo Rich, os jornais mais sérios publicaram as afirmações da Casa Branca na primeira página, relegando as interrogações para a última. Não faltará quem diga que mexer nessa pouca-vergonha serve, apenas, para desprestigiar os jornais mais reputados, mais sérios, do mundo anglófono e, finalmente, para oferecer munições aos inimigos dos EUA e fortalecer o antiamericanismo.É precisamente o contrário. É urgente obrigar os meios de comunicação e, em particular, os jornais de grande prestígio a verem-se ao espelho das mentiras que são capazes de difundir e apoiar.(...)"
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"Mas sabe que George W. Bush e o seu conselheiro político jogaram com os medos e o patriotismo para ganhar as eleições"
Sabemos?
Quantos?
Ontem vi um pouco do programa da RTP para nomear o Português mais notável.
Parece que não tem nada a ver, não é?
Vi pessoas nomearem Barbara Guimarães e Pauleta ao lado de Camões, Fernando Pessoa e
D. Henrique
Por estas e por outras, pergunto:
Será que sabemos?
Será que nos interessa?
Não será melhor continuarmos a deixar que um treinador de futebol "Mude o rumo da História" e venda muitos relógios?
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Sabemos?
Quantos?
Ontem vi um pouco do programa da RTP para nomear o Português mais notável.
Parece que não tem nada a ver, não é?
Vi pessoas nomearem Barbara Guimarães e Pauleta ao lado de Camões, Fernando Pessoa e
D. Henrique
Por estas e por outras, pergunto:
Será que sabemos?
Será que nos interessa?
Não será melhor continuarmos a deixar que um treinador de futebol "Mude o rumo da História" e venda muitos relógios?
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